Brasil-Testemunho: minha missão na Cáritas diocesana de Itabira

Publicado el : 7 de enero

Ardor Missionário e Solidariedade , apelos de esperança.
“Se rezamos, é o Espírito que nos leva à oração; se nos unimos, é o Espírito que vence a divisão; se trabalhamos, é o Espírito que nos move à ação”.

E por esse modo de crer e viver eu faço parte no trabalho da equipe da Assessoria Técnica Independente da Cáritas. Acreditando na capacidade dada a todos nós, somos responsáveis pelo universo em que vivemos! Pessoalmente, vivo o discernimento de cada dia e ouso-me a gerir a dinâmica inspirada nos valores éticos e humanos. Ir ao encontro das pessoas, escutá-las em suas vivências cotidianas, sentindo as exigências que as lutas e defesas por direitos exigem em muitos esforços coletivos. Por esse espaço profissional, a vida intensifica o ardor e apelo missionário. Sabemos que o amor é prática concreta nos sonhos comuns do projeto por uma humanidade integral.

Hoje, trago a partilha da missão junto a Cáritas Diocesana de Itabira, em que trabalho no projeto de Assessoria Técnica Independente, junto às pessoas atingidas pela barragem em diversas comunidades, dentre as quais formam os 49 municípios atingidos, direta ou indiretamente, e onde foram mortas no rompimento da barragem em Mariana.

O rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, na Região Central de Minas Gerais, completou nove anos. E, desde novembro de 2015, após o desastre, numa população de mais de 2 milhões de pessoas que habitam a região da Bacia do Rio Doce, entre os Estados de Minas Gerais e Espírito Santo, existe um triste cenário onde a vida não é a mais a mesma.
Há 9 anos, a lama de rejeitos de minério atravessou fronteiras e atingiu diversas comunidades pelo rompimento da barragem de Fundão. Essa tragédia não se limitou a deixar rastros visíveis no solo, na água e na vegetação – ela se infiltrou nas vida cotidiana, atingindo lares, tradições e rotinas.

O impacto da tragédia é visível na saudade como a única forma de ter de volta a memória da vida de antes. Tudo mudou. «A relação com a terra, com os alimentos, com as águas e com o sagrado. A vida em comunidade, as partilhas e as expectativas em relação ao futuro. Os danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão abriram feridas que ainda não foram cicatrizadas. A saudade do que era possível viver antes é latente. Para muitos, essa saudade tem sido a motivação na busca por uma reparação justa a todas as pessoas atingidas, porém são muitos os desafios impostos».
A equipe da Assessoria Técnica Independente é bem ampliada e constituída em áreas do Psicossocial, Jurídico, Humanidades e Educação, Reativação Econômica, Comunicação e Socioambiental.

Em nossas ações são realizadas as visitas e mobilizações nas comunidades, o atendimento itinerante nos espaços onde se encontram as pessoas envolvidas, buscando a organização coletiva através de diversas atividades, como grupos de base, seminários, rodas de diálogos, comissões municipais e territoriais.

No trabalho de assessoria realizado, somos um grupo de pessoas em trabalho contínuo para acompanhamento e informações da situação de reparação aos danos causados, dada a necessidade de acesso e compreensão das complexas informações técnicas e jurídicas relacionadas aos processos judiciais de reparação. Somos uma ferramenta crucial na busca por justiça e equidade nas disputas entre comunidades impactadas por empreendimentos de grande porte e as empresas responsáveis por esses empreendimentos. Nessas condições, existimos enquanto um mecanismo importante de defesa às comunidades atingidas, buscando juntos a oportunidade de uma participação ativa do debate público em torno do processo de reparação dos danos causados pelo rompimento de barragens, bem como das decisões que afetam o futuro das pessoas atingidas.
No escutar, sentir, servir… e com toda a ternura, parafraseando o amável Freire, ESPERANÇAR! Eis o verbo que me põe em movimento. “A grande generosidade está em lutar para que, cada vez mais, essas mãos, sejam de homens ou de povos, se estendam menos em gestos de súplica. E vão se fazendo cada vez mais, mãos humanas, que trabalhem e transformem o mundo”. Paulo Freire, 1987. Eis a lição para toda a vida.Ninguém leva ao outro o que não possui, e assim sendo, o desejo individual só se compõe na história junto com os outros. Tudo isso é fruto da fé, a mística e espiritualidade nos molda a construir e transformar nas trajetórias da vida. A todas as pessoas seguimos em solidariedade, juntos, na defesa da vida e dos direitos, SOMOS CORRENTE DE ESPERANÇA.

Ir Luciana Vinicius de Souza

Fotos : Tainara Torres/Caritas Diocesana de Itabira